Os cristãos estão no
mundo, mas não devem ser do mundo (João 15.17). Os cristãos vivem no mundo como
peregrinos, considerando-se cidadãos do céu (Filipenses 3.20). Entretanto, os
cristãos também têm responsabilidades como cidadãos dos países da terra.
Como pode um cristão
conciliar os conflitos entre duas cidadanias, a terrestre e a celestial?
O que as escrituras ensinam sobre os governos
nacionais e a responsabilidade de um cristão para com eles?
Princípios
A pergunta que
pretendiam usar como armadilha deu a Jesus a oportunidade para Ele definir a
relação básica de um cristão com o governo. Veja a pergunta: "É
lícito pagar tributo a César, ou não?" (Mateus 22.17).
Os inimigos de Jesus pensaram que tinham
maquinado um dilema sem saída. Se Jesus dissesse para pagar os impostos, ele
não só ficaria impopular (porque os judeus odiavam ter que pagar impostos aos
dominadores romanos) mas também poderia ser retratado como sendo contra Deus,
uma vez que Deus exige fidelidade exclusiva. Mas, se Jesus dissesse para não
pagar, ele seria preso pelos romanos, por traição.
A maneira como Jesus
resolveu o dilema foi impressionante."Jesus, porém, conhecendo-lhes a
malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do
tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie
e inscrição?
Responderam: De César.
Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus
22:18-21). Jesus pediu uma moeda e perguntou o nome e a cara de quem estavam
nela. É claro, essas moedas eram propriedade de César: Elas tinham sua
assinatura e sua imagem nelas.
Os judeus estavam
recebendo os benefícios da dominação romana e tinham obrigação de pagar pelo
que eles estavam recebendo e devolver a propriedade de César quando exigida. Ao
evitar a armadilha, Jesus lançou o princípio básico regulando a relação do
cristão com o governo: o homem tem uma dupla natureza e uma dupla cidadania.
O
homem tem responsabilidade para com o governo, no campo civil e para com Deus,
no campo espiritual. Normalmente, é possível dar tanto a Deus como ao governo o
que lhes é devido. Em geral, quando alguém se torna um cristão, ele não se
retira do mundo nem corta todas as relações terrestres, mas leva os princípios
cristãos para cada relacionamento da vida (1 Coríntios 7:17-24).
Paulo ampliou estes pontos e deu uma explicação mais completa do papel
do governo no plano de Deus.
"Todo homem
esteja sujeito às autoridades superiores: porque não há autoridade que não
proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De
modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que
resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para
temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal. Queres tu não temer a
autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; visto que a autoridade é ministro
de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem
motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar
o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por
causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo
também pagais tributos: porque são ministros de Deus, atendendo constantemente
a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a
quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Romanos
13:1-7).
Paulo mostrou que as autoridades superiores são estabelecidas por Deus.
Deus é o rei e o
soberano sobre as nações (Salmo 47; Daniel 4; Jeremias 18:5-10). Deus
estabeleceu autoridade em muitas áreas da sociedade. Na família, por exemplo,
Deus estabeleceu o esposo e o pai como autoridades. Do mesmo modo, Deus
constituiu o governo civil como a autoridade da nação. Deus instituiu o governo
civil para servir como seu ministro para o bem: para louvar o que é direito e
para vingar o mal.
Princípios de justiça e
direito são o alicerce do governo do universo, por Deus, e foram planejados por
Deus para serem, do mesmo modo, o alicerce dos princípios do governo civil
(Salmo 89:14-15; Jeremias 22:1-5; Provérbios 14:34).
O uso que Deus faz do governo para punir o mal é importante.
No contexto (Romanos
12:17-21), Deus proibiu os indivíduos de vingar o mal pessoalmente. Deus é o
vingador. Então, no capítulo 13, vemos que um dos meios que Deus usa para punir
o mal é o governo civil. Este capítulo autoriza o governo a usar a espada, para
executar a pena de morte (Romanos 13:4).
Isto está de acordo com
um princípio básico de justiça e direito revelado por Deus, muito no começo da
história humana: "Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem
se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem" (Gênesis
9:6). Hoje em dia, esta tarefa de executar a justiça por meios de castigar os
malfeitores deve ser feita pelo governo (veja também 1 Pedro 2:13-17).
O governo tem o direito
dado por Deus para usar os princípios da justiça para punir os malfeitores.
Responsabilidades
O cristão tem certas
responsabilidades em relação ao governo:
1. O cristão deve orar
pelos funcionários do governo (1 Timóteo 2:1-2).
2. O cristão deve pagar
os impostos (Mateus 22:21; Romanos 13:6-7). É errado o cristão deixar de pagar
os impostos que ele legalmente deve. Deus espera que o cristão aja com
honestidade e integridade em todas as áreas da vida.
3. O cristão deve
obedecer o governo e suas leis (1 Pedro 2:13; Romanos 13:1-2, 5). De fato, Deus
espera que o cristão respeite e se submeta à autoridade de todas as formas
(Tito 3:1). Uma atitude revolucionária é condenada (Provérbios 24:21-22).
Não há, na Bíblia,
nenhuma passagem que especifique uma forma particular de governo (democracia,
república, monarquia, etc.); o cristão deve submeter a qualquer tipo de governo
que tem o poder. Em resumo, os cristãos obedecem à lei.
4. O cristão deve honrar
o governo (Romanos 13:7; 1 Pedro 2:17). Tem que ser cuidadoso para não difamar
os funcionários do governo (Judas 8-10).
Limite
Há um limite básico para
a obediência do cristão ao governo: ele tem que obedecer a Deus antes que ao
homem (Atos 5:29). O cristão não pode nunca permitir que qualquer autoridade,
de qualquer tipo, suplante a autoridade de Cristo.
A autoridade de Cristo
está acima da autoridade do pai, do esposo, do presbítero da igreja, do chefe
no trabalho ou do funcionário do governo. Nunca podemos desculpar a
desobediência a Deus baseados em alguma lei ou decisão do governo. Temos que
obedecer a Deus antes que ao homem!
Pense numa ilustração
moderna. Algumas vezes, as pessoas se valem das leis liberais do governo, a
respeito do divórcio, para desculpar sua ignorância do que Deus disse.
Basicamente a Bíblia
condena o divórcio (Mateus 19:6) e diz que as pessoas que estão casadas segunda
vez, estão cometendo adultério (Mateus 5:32; Marcos 10:11-12; Lucas 16:18;
Romanos 7:2-3). Uma exceção é dada: aqueles que se divorciam de seus cônjuges por
infidelidade sexual podem tornar a se casar (Mateus 19:9). Frequentemente, o
governo permite o divórcio e novo casamento por outras razões. Não podemos
nunca pensar que a permissão do governo, automaticamente, significa a aprovação
de Deus. Historicamente, os governos têm aprovado tudo, desde a idolatria até o
assassinato. Mas, com permissão do governo ou não, um cristão jamais tem o
direito de desobedecer a Deus.
Deus autoriza a
existência do governo civil e manda os cristãos obedecerem. Mas, como em qualquer
relacionamento humano, as expressas ordenanças de Cristo têm mais autoridade do
que as ordens de qualquer homem ou instituição.
Gary Fisher, blog Saber Cristo
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